Se álcool combate o vírus, por que não surgiu remédio contra covid?.
Especialistas
explicam que álcool e sabão neutralizam o contágio fora do organismo; com o
vírus no corpo a situação é outra.
Em um corredor de supermercado, diante da prateleira com potes de álcool em gel, a menina pergunta,
intrigada: "Se o álcool e o sabão matam o coronavírus fora do corpo, por
que não se consegue encontrar um remédio que mata o coronavírus dentro do
corpo?". A pergunta, ingênua, carrega, no entanto, doses da
ansiedade humana em desvendar o desconhecido e logo transformá-lo em
descoberta. Algo muito comum no imaginário das crianças. E também dos
cientistas. A questão é que, mais amadurecido diante dos mistérios, o cientista
aprendeu que há todo um caminho por trás das aparências, que até pode ter como
alicerce a imaginação, mas que precisa fazer da hipótese uma confirmação. E, em
um momento de emergência, como o da busca por um remédio que combata o novo
coronavírus, para enfim controlar a atual pandemia, a ansiedade fica mais
latente. Mas ela necessita do suporte do laboratório, em um trabalho que leve
em conta as diferenças do combate ao vírus dentro e fora do organismo, conforme
explica o consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Hélio Arthur
Bacha. "Não se trata de trabalhar com cultura de células, mas com o
organismo humano, com um corpo e reações. Uma coisa é neutralizar uma cultura
de células fora do organismo, outra é buscar uma terapia dinâmica em um ser
vivo, que a combata dentro do corpo. O álcool e o sabão agem no RNA do vírus
fora do corpo. A ação de um medicamento não é só contra o vírus, é dentro de um
sistema complexo, onde o vírus se multiplicou, envolve hormônios, produção de
anticorpos que dão um tipo de resposta, é um complexo de produtos
biológicos", diz. Para ele, este tipo de pergunta, aparentemente pueril,
pode mesmo levar a pensamentos ludibriados pela própria ansiedade. E baseados
em fórmulas simplistas. "O vírus se multiplica dentro da célula, uma coisa
é a desnaturação do vírus na superfície, outra é dentro da célula. Não podemos
nos basear na chamada medicina de conhecimento positivo, fora da clínica, mas
sim naquela baseada em evidências. Há 100 anos a medicina abandonou esse tipo
de prática. Antes se fazia medicina baseada em teoria fora da clínica, mas isso
mudou e agora ela é feita com base na evidência", ressalta Bacha. Tempo de observação Até o
momento, os laboratórios não encontraram um medicamento que neutralize a
covid-19 de forma direta e eficiente. Os tratamentos mais indicados são
baseados no suporte de oxigênio, para casos mais graves e pacientes de alto
risco devido a comorbidades, e apoio respiratório, como ventilação, em casos
mais críticos. Um medicamento que tem mostrado alguma eficácia é a
Dexametasona, que pode contribuir com a redução da necessidade de ventilação.
Outro aprovado é o Remdesivir, indicado em alguns casos onde haja internação e
que pode amenizar a ação do coronavírus. Medicamentos, como os analgésicos e os
antipiréticos, também estão aptos para o tratamento, mas voltados apenas para o
alívio de sintomas. Nem o Remdesivir, no entanto, está mostrando uma eficácia
definitiva, como afirma Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira
de Imunizações). "São raros aliás os vírus que têm antivirais. Para
covid-19 não tem, para outros vírus até tem, os antivirais que a gente chama,
são poucos os que atuam, para hepatite B, para o vírus de herpes, você consegue
às vezes inibir a multiplicação viral. Para covid não foi desenvolvido nenhum
antiviral ainda, nem a cloroquina, nem a ivermectina. Nem o remdesivir,
antiviral que foi aprovado, mas o uso acabou não sendo tão benéfico e ele inibe
pouco a multiplicação viral", observa. Kfouri também destaca que a atuação
do álcool em gel e do sabão é restrita ao vírus fora do organismo. "Substâncias
como álcool e sabão não vão ter uma ação neutralizando o vírus após o contato
com o organismo, nem topicamente, fazendo gargarejo, porque o virus já estará
dentro da células e nem com drogas até agora desenvolvidas se encontrou uma
maneira de neutralizá-lo", afirma. E ele completa. "O vírus é um
organismo intracelular, depende de estar dentro da célula, quando ele está na
superficie, ambiente, se consegue neutralizá-lo com substâncias par inavitá-lo,
uma vez que entra na celula, invada, usa o maquinário da célula para se
multiplicar, não há mais drogas que agem nessa situação." Para Bacha, tal
descoberta ainda necessita de um tempo de observação. Para, aí sim, surgir,
inclusive por meio do acaso, como ocorreu com a penicilina, quando, em 1928, o
cientista inglês, Alexander Fleming, percebeu de repente que uma amostra de
bactérias Staphylococcus foi contaminada com um fungo, do gênero Penicillium,
que tinha a capacidade de inibir a multiplicação de bactérias, criando o
antibiótico. "Até agora não encontramos um princípio ativo, como
antibacterianos ou antivirais, que funcionam diferente para a covid-19. O
remédio para o HIV, por exemplo, demorou muito tempo para ser
desenvolvido", acrescenta.Isso não quer dizer, no entanto, que a busca por
um medicamento não esteja em um estágio avançado, já que os recursos
científicos têm dado mostras de que, com eles, muitas descobertas têm se
acelerado. Como no caso da própria vacina contra a covid-19, desenvolvida em
menos de um ano, algo inédito na história. Para Bacha, quando a descoberta se
apresentar, só haverá uma maneira de saber se ela poderá ser utilizada. "Toda
a terapia é válida quando, comprovadamente, os benefícios são maiores do que os
malefícios."( Fonte R 7 Noticias Intenacional)