Mais de 280 civis mortos na região tiveram de ser
enterrados em valas comuns.
As forças russas aceleraram, neste sábado (2), sua retirada do
norte da Ucrânia, após várias semanas de bombardeios e combates que deixaram um
panorama apocalíptico, com imagens macabras como a de 20 cadáveres em uma rua
de Bucha, perto de Kiev.Segundo o prefeito de Bucha, Anatoly Fedorouk, quase
300 pessoas no total tiveram que ser enterradas "em valas comuns" na
cidade, palco de combates ferozes e que acaba de ser recuperada pelos soldados
ucranianos. "Em Bucha, já enterramos 280 pessoas em valas comuns",
porque era impossível fazê-lo nos três cemitérios do município, todos ao
alcance dos soldados russos, disse Fedorouk à AFP por telefone.No sul, a Cruz
Vermelha se esforça para retirar milhares de pessoas presas no porto de
Mariupol, sem comida, água e eletricidade.Depois de cinco semanas da campanha
militar ordenada em 24 de fevereiro por Vladimir Putin, que deixou algumas
áreas da Ucrânia em ruínas, a Rússia anunciou nos últimos dias que reduziria os
ataques contra Kiev e a cidade de Chernihiv (norte).Neste sábado, o conselheiro
presidencial ucraniano Mikhaylo Podoliak confirmou que uma "rápida
retirada" russa é observada nas regiões. "Com a rápida retirada dos
russos de Kiev e Chernihiv (...) está bastante claro que a Rússia escolheu
outra tática prioritária: retirar-se para o leste e sul, manter o controle de
vastos territórios ocupados e conquistar um poderoso ponto de apoio na
região", escreveu Podoliak no Telegram, ao retomar a advertência do
presidente Volodmir Zelenski sobre uma reorganização das forças russas.O
governador da região de Chernihiv, Viacheslav Chaus, informou que a cidade de
mesmo nome, devastada pelos combates nas últimas semanas, não sofreu novos
ataques na madrugada deste sábado. "Os russos se retiram da região de
Chernihiv", afirmou.O horror da guerra, no entanto, não para na capital. O
fotógrafo e documentarista ucraniano Maks Levin foi encontrado morto nas
proximidades de Kiev, depois de ser considerado desaparecido por mais de duas
semanas."Ele desapareceu na zona de hostilidades em 13 de março, na região
de Kiev. Em 1º de abril, o corpo foi encontrado perto da localidade de Gouta
Mezhyguirska", afirmou o secretário do gabinete presidencial, Andrey
Yrmak.Além de recuperarem o controle ao redor de Kiev, as tropas ucranianas
avançavam na região de Kherson, no sul do país, a única cidade grande que a
Rússia conseguiu ocupar desde 24 de fevereiro."Certamente não podemos
evitar usar armas pesadas se queremos liberar o leste e Kherson e empurrar os
russos para o mais longe possível", destacou Podoliak.A situação é
diferente no porto estratégico de Mariupol, no mar de Azov, sul do país, que
está cercado e onde as condições humanitárias são catastróficas.Mariupol
suportou semanas de bombardeios russos intensos, com pelo menos 5.000
habitantes mortos, de acordo com as autoridades locais, e as 160 mil pessoas
que permanecem na cidade sofrem com a falta de alimentos, água e energia
elétrica."Conseguimos resgatar 6.266 pessoas, incluindo 3.071 de Mariupol",
declarou o presidente Zelenski em uma mensagem de vídeo neste sábado.A
vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk informou nesta sexta-feira (1º) que 42
ônibus com moradores de Mariupol saíram de Berdiansk, 70 km ao sudeste, e outros 12
partiram de Melitopol com moradores da cidade.Dezenas de ônibus com ucranianos
que fugiram da destruição em Mariupol chegaram na sexta-feira a Zaporizhzhia, 200 km ao noroeste."Choramos
quando chegamos a esta área. Choramos quando vimos os soldados no posto de
controle com bandeiras ucranianos em seus braços", disse Olena, que
carregava a pequena filha no colo."Minha casa foi destruída, eu vi em
fotos. Nossa cidade não existe mais", acrescentou.A Cruz Vermelha
Internacional anunciou que pretende fazer outro esforço de retirada de civis em
Mariupol, após uma tentativa frustrada nesta sexta-feira, "quando as
condições tornaram impossível proceder", segundo a organização.A ONU
informou que mais de 4,1 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde a invasão
russa.Neste sábado, durante uma visita a Malta, o papa Francisco pediu
"respostas amplas e compartilhadas à crescente emergência
migratória"."A expansão da emergência migratória – pensemos nos
refugiados da martirizada Ucrânia – exige respostas amplas e compartilhadas. Não
se pode deixar que apenas alguns países suportem todo o problema, enquanto
outros permanecem indiferentes", declarou o papa em um discurso no palácio
presidencial de Valeta.As negociações de paz entre as autoridades ucranianas e
russas continuaram nesta sexta-feira por videoconferência, mas o Kremlin
advertiu que um ataque ucraniano com helicóptero contra um depósito de
combustível na cidade russa de Belgorod afetaria as conversações. "Isso
não pode ser visto como algo que cria condições apropriadas para a continuidade
das negociações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.O ataque
aéreo atingiu um depósito de combustível do grupo de energia Rosneft a 40 km da fronteira ucraniana.Kiev
se negou a assumir a autoria do ataque. Entrevistado pelo canal americano
Fox News sobre a acusação russa, Zelenski disse: "Desculpe, não discuto
nenhuma de minhas ordens como comandante em chefe".O presidente ucraniano
voltou a insistir no apelo para que o Ocidente forneça mais apoio militar ao
seu país.O Pentágono anunciou que destinará US$ 300 milhões em "ajuda de
segurança" para fortalecer a defesa da Ucrânia, além do US$ 1,6 bilhão que
Washington já ofereceu desde o início da invasão russa. O pacote inclui
sistemas de foguetes guiados a laser, drones, munições, aparelhos de visão
noturna, sistemas de comunicação tática, equipamentos médicos e peças de
reposição.A Rússia enfrenta sanções ocidentais sem precedentes que levaram
empresas multinacionais a abandonar o país. As autoridades americanas afirmaram
que a economia russa deve enfrentar uma contração de 10%. A China, grande
aliada comercial da Rússia, negou que evite "deliberadamente" as
sanções ocidentais contra Moscou, um dia depois de receber uma advertência da
UE de que qualquer apoio de Pequim ao Kremlin prejudicaria as relações
econômicas com a Europa.A economia ucraniana também sofre os efeitos
devastadores da guerra: o PIB desabou 16% no primeiro trimestre na comparação
com o quarto trimestre de 2021, segundo estimativas do Ministério da Economia.(
Fonte R Noticias Internacional)